Fiel da Balança 2020

Tem durante a noite que resolver dois casos práticos: o da incompetência absoluta de um órgão para a prática de um ato administrativo, e o da sua incompetência relativa para ser ele, por inteiro, junto daqueles de quem mais gosta. Opta, na maior parte das vezes, pela primeira. Não o faz por meritocracia ou dedicação exemplar: fá-lo na expectativa de que esta decisão, em concreto, venha a diminuir o número de decisões do mesmo género ou espécie que terá que fazer no futuro. É viver no futuro com um olho no presente. O trabalhador e estudante é sempre economista: não decide sem ponderar, não age sem planear. É conhecedor profundo do conceito de custo de oportunidade, não pela brilhante prestação na cadeira que o ensina, mas pelo conhecimento empírico que desenvolve no quotidiano. Carrega na mão a balança da justiça, que pende quase sempre para a Universidade e suas exigências; e quando assim não faz, quando se distrai e deixa que a Vida se sobreponha à Academia, que os pratos se equilibrem e que o processo seja equitativo, esta não perdoa àquela: não participa, não completa a disciplina, não progride para o ano seguinte. Está constantemente na presença de duas placas tectónicas em tensão para se sobreporem uma à outra; mas quando a primeira se sobrepõe à segunda, esta vem reclamar a sua importância e coloca a Vida novamente no seu devido lugar: o segundo. A narrativa não tem por objetivo criar no leitor pena, comiseração ou qualquer sentimento altruísta para com o paradoxo do trabalhador e estudante; pretende – isso sim - ser uma homenagem aos que se fazem Hércules, que ultrapassam as várias dificuldades de conjugação que um ensino exigente coloca a uma existência tranquila (ou normal), que sacrificam amor e amizades pelo futuro. É também, e talvez principalmente, uma homenagem aos que são sacrificados, tantas vezes esquecidos quando se conta a história de quem os sacrifica. À família, aos amigos, aos jantares e às conversas, aos fins-de-semana e às viagens, à partilha e ao recato, é ao vosso sacrifício - que se consubstancia na nossa ausência - que deixamos o maior agradecimento: não há estrutura sem pilares, e vocês são os nossos. Aos trabalhadores e estudantes, motivação e força: a jornada chegará ao fim e aí, sob o céu limpo do fim de uma aventura difícil, tudo se tornará melhor, e a Vida voltará a estar em primeiro lugar. As queixas serão outras, as dificuldades serão novas, mas deixaremos de ser um híbrido que em nada se especializa.

Até lá, continuemos.

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