Fiel da Balança 2020

O voluntariado, à semelhança do Direito, existe para resolver problemas. Surge como solução concreta para um problema específico, que depois de ser identificado e de ser delineada uma estratégia, pode ser resolvido através do tempo, das capacidades, do compromisso e do investimento pessoal de pessoas desprendidas, que querem intervir e ser parte da solução. O fim último de um projeto de voluntariado deve ser a sua extinção: tal significaria que os objetivos foram cumpridos e que o problema (seja ele falta de apoio escolar, pessoas a viver em condições precárias ou qualquer outro!) deixou de existir. Claro está, há um longo caminho a percorrer até se chegar a esta situação, em alguns casos utópica, e para tal, seria necessária uma maior mobilização da comunidade, em particular de universitários, que estão tendencialmente mais disponíveis nesta fase da sua vida, para integrarem projetos de voluntariado. "Porém, o que é que eu ganho com isso?": é uma pergunta recorrente para qualquer voluntário que invista uma parte do seu tempo livre neste tipo de atividades. Ao longo do tempo e em colaboração com várias associações já assumi diferentes funções, das mais simples às mais complexas, desde distribuir bolos numa linha de montagem a pessoas sem possibilidade de providenciarem a sua comida, a animar e integrar diferentes grupos de jovens provenientes dos mais variados contextos sociais, a formar e recrutar novos voluntários, até apresentar o projeto de uma das associações a que pertenço a grandes empresas. No desempenho de todas estas tarefas encontrei oportunidade para aprender e ganhar novas competências: comunicacionais, relacionais, de autogestão e organização. Pude presenciar e fazer parte de realidades completamente distintas daquela que me rodeia diariamente, pude ganhar consciência e ver novos mundos neste mundo. A resposta à pergunta frequente resume-se no facto de o voluntariado ser uma experiência absolutamente "win-win", de onde cada um retira tanto quanto investe, no mínimo em quantidades proporcionais, muitas vezes em quantidades exponenciais. Ao longo do tempo e do meu envolvimento em diferentes organizações voluntárias pude constatar que, na esmagadora maioria dos casos, quem faz voluntariado não desempenha apenas uma tarefa, apenas numa associação. Os voluntários que conheço estão associados a uma panóplia de causas e contribuem em diferentes missões! Existe um fenómeno – extremamente positivo – de acumulação de funções, de envolvimento em múltiplos projetos e de criação de uma sinergia que permite ir corrigindo desigualdades e construindo uma sociedade e um mundo mais justo. Chamemos-lhe “tachos” do bem: cargos e funções acumuladas por aqueles que dedicam o seu tempo a causas sociais e querem ser parte da solução. O meu desejo é que sejamos cada vez mais e cada vez mais envolvidos. A mudança está ao nosso alcance. Nós, juristas, existimos para resolver problemas, não é? Há muitos à nossa volta, vamos a isso.

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