Fiel da Balança 2020

Os dez anos mais quentes de que há registo aconteceram nos últimos quinze anos, os maiores sumidouros de gases de efeito de estufa (como a Amazónia) estão a desaparecer, o nível de água a subir e cada vez se tornam mais frequentes fenómenos climáticos extremos, como secas ou cheias, que causam o desalojamento e morte de milhares de pessoas. As alterações climáticas não são uma memória do passado, nem uma eventualidade do futuro: são uma realidade do presente. A crise climática é latente e representa um complexo problema político e de justiça social. Na sua natureza mais ampla, o meio ambiente transcende as fronteiras criadas pelo ser humano e é impreterível mencionar que os países com menos responsabilidade nas emissões de gases de efeito de estufa, como os países do Sul Global, são os que, neste momento, enfrentam as consequências mais diretas destas mudanças climáticas. Enquanto isso, os países do Norte Global têm uma responsabilidade histórica face à contribuição para estas emissões e são os menos impactados por elas. Naturalmente, os efeitos desastrosos das alterações climáticas no Norte Global vão aumentando paulatinamente, e, mesmo aí, será sempre a camada mais pobre, discriminada e vulnerável da sociedade, mais exposta às condições naturais e com menos acesso àquelas que deviam ser condições dignas de vida, que vai sofrer de forma mais gritante. O extremar das condições ambientais resulta, inevitavelmente, na intensificação das desigualdades sociais, e essa injustiça social e climática é evidente quando aqueles que menos contribuem para o desastre, e que vivem em zonas mais pobres e menos desenvolvidas, são os mais afetados. Assim, ainda que estas assimetrias estejam tão presentes, esta injustiça não pode mais ser ignorada pois este é um problema que, progressivamente, atingirá toda a população do planeta. Por essa razão, é essencial a colaboração e solidariedade entre países da União Europeia, entre a União Europeia e o resto mundo, entre países do Norte Global e do Sul Global. Acima de tudo, tem de haver lugar para ação solidária internacional. Ainda que a estratégia dinâmica europeia, nas décadas de 70 e 80, tenha dado especial atenção a questões ambientais tradicionais, atualmente, é necessária uma mudança de abordagem, para que, após quatro décadas de políticas europeias e nacionais cuja aplicação é problemática, os desafios ambientais sejam encarados com a seriedade que exigem e as vantagens desta legislação sejam sentidas por todos e todas. As políticas ambientais não se podem cingir apenas ao ambiente lato sensu. A ação política ambiental tem de ser abrangente e multifacetada e obriga a intervenção nos vários sectores da sociedade, como na economia, na educação, na saúde ou mesmo na própria democracia. Carecemos de encarar que as raízes desta árvore se espalham e entranham em todos os aspetos das nossas vidas.

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