Fiel da Balança 2020

O #MeToo é um movimento internacional que se tornou viral em 2006, cujo objetivo se prendia em dar ênfase ao abuso e assédio sexual, maioritariamente, no local de trabalho, como forma de alertar a população para este mesmo problema. Até hoje, tinha ideia de um #MeToo, em que os homens passavam sempre por ser os predadores, agressores, violadores, detendo toda e qualquer culpa. Mas, com o decorrer do tempo, pude-me aperceber de uma faceta do #MeToo completamente diferente: mulheres, que escolhem envolver-se com homens hierarquicamente superiores, que acabam por ver a sua vida destruída, porque a sociedade as julga por estarem com esses mesmos homens. E por sociedade, digo as próprias empresas onde esses homens e essas mulheres se encontram. O homem tem sempre a sua culpa, não tiro isso. Mas também me custa acreditar que não exista culpa por parte das pessoas ao redor da mulher, que a julgam por ter estado com esse homem com poder. Não obstante, e apesar de achar que o homem nem sempre tem culpa das repercussões que o facto de uma mulher estar com ele tem no seu quotidiano, é de deixar estarrecida qualquer mulher, o impacto que um simples olhar no local de trabalho tem na mulher que se envolveu sexualmente com esse homem. Porque, quer queiramos quer não, o homem aproveita-se do poder e do nome que tem, de forma a obter tudo aquilo que quer e pensa que pode ter. E esse é o problema: ele acha que pode ter tudo, sem ter qualquer repercussão- mas elas existem. Não só para ele, mas para todas as mulheres que involuntariamente se envolvem com ele. As palavras, os olhares, os suspiros de julgamento, o medo, destroem a autoestima de qualquer mulher. E o pior, pelo menos para mim, é a forma como as próprias empresas, por quererem proteger não só a sua imagem, mas o homem no poder em causa e o seu nome, encobrem todas as situações.

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