Quadrante 15
te dá. Vi muita gente vinda do interior com a ideia de que vão conseguir e depois chocam com a cidade, aqui as coisas são competitivas de uma maneira que não faz sequer sentido. Quando decidiram ser artistas? Não tiveram medo? Xavier: Durante muito tempo tive muitos complexos ao pensar no tipo de vida dos músicos. Ao estudar música, ouvimos que a vida de artista é difícil, que temos de nos esforçar e que mais vale (ir) estudar outra coisa. Os meus pais apoiaram-me, isso nem foi um problema, o problema estava em mim próprio por não acreditar na minha capacidade para singrar neste meio. Temos de estar preparados para a vida como artistas porque ela está sempre a dar-nos chapadinhas e temos de estar sempre a aguentá las; há meses em que não encontro trabalho e depois no mês seguinte tenho uma série de concertos marcados. Não consigo convencer a minha cabeça a trabalhar num nine-to-five enquanto aqui trabalho dentro de um espaço com um sistema por si já alternativo e com pessoas que me apoiam. António: Sempre fui aluado e quando era mais novo tinha algumas inseguranças em relação às minhas capacidades. Foi ao virar-me para a Arte que descobri algo em que era bom, que conseguia fazer, e atirei-me de cabeça sem pensar duas vezes. As artes deram-me um propósito e pensei que mais valia fazer algo de que realmente gosto, por mais que isso implique viver numa situação precária. Temos de ser felizes com o que fazemos na vida, e viver em harmonia com o que queremos ir fazendo: hoje posso ser músico e amanhã já não. Não podemos ter medo de arriscar e isso é o importante. Compensa.
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Quadrante, 2023
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