Quadrante 15
áreas artísticas e novos espaços, produzir mais conteúdos digitais também.
Falta contextualização: antes de começar a produzir temos de consumir coisas artísticas e quando aprendemos música na escola não nos dão o que ouvir: dão-nos uma flauta e ensinam nos a ler pautas e pronto, tocamos o titanic até ao final do ano — essa é a educação musical. Só serve para dizer que existe. Em que pensam que se deveria focar o ensino artístico? Numa vertente mais técnica ou mais emocional? Xavier: Os dois, mas só quando se tem o sentido emocional é que se procura a técnica. A Arte está completamente ligada às emoções e isso não nos é ensinado na escola, a menos que se vá para a António Arroio ou para a Soares dos Reis. Na António Arroio, no primeiro ano, passamos por todos os cursos e só no ano seguinte escolhemos para onde ir, e isso é fundamental, porque só aí temos um contexto das várias hipóteses e podemos realmente fazer uma escolha. E, quando a fazemos, a nossa cabeça tem tantas novas referências que mais facilmente pensamos fora da caixa. António: Por isso é que existem conservatórios cheios de miúdos que perderam a paixão. O lado emocional é o que nos faz continuar, seja o que for: se quero desenhar um braço é porque tenho uma referência da qual me quero aproximar ou até destruir ou refazer. Também no nosso coletivo eu, por exemplo, adoro pintura, cinema, animação e inspiram-me para as coisas que faço. António: Quero mandar cá para fora. Continuar a criar. Fazer disto uma plataforma mais sustentável para muita mais gente. Enquanto jacarandá estamos agora associados ao Bus - Paragem Cultural e queremos crescer, ser mais um ponto de Lisboa que ajude novos artistas e que traga mais ideias à conversa: abranger novas No Coletivo, qual o vosso objetivo enquanto criadores?
Xavier: Um dos papéis da Arte é permitir-nos estar à vontade para exprimir aquilo que não queremos exprimir em palavras, e exprimi-lo de uma maneira que só nós percebemos. Hoje em dia somos muito controlados, as emoções estão distraídas com as redes sociais, etc — e a Arte permite-nos não ter medo das emoções fortes e evoluir enquanto pessoas. Da minha perspectiva bastante pessoal, o que me move é nós, enquanto artistas, estarmos unidos. Nesta área, somos bastante enganados e iludidos por soluções totalmente precárias e, de repente, termos conseguido criar um espaço — não muito grande — mas que dá a oportunidade a novos e a pequenos artistas de se apresentarem e saírem daqui com um dinheirinho no bolso e com uma noite agradável, é quase inimaginável. Xavier: Eu cresci num meio artístico bastante underground — do punk rock e etc — estando muita dessa malta envolvida em projetos associativistas, coletivos,... e muitos deles saíram da cidade e foram viver para o campo. Na cidade há um ambiente competitivo, parece que não há espaço para todos — o que é uma enorme ilusão; cada projeto é um projeto e mesmo que semelhantes nunca existem dois iguais. Já no interior, e Seia, que é o que conheço melhor, existe uma série de grupos e entidades independentes e eles procuram sempre trabalhar todos juntos para conseguirem chegar a um fim comum. Na cidade perde-se este objetivo: distraímo-nos com os nossos próprios problemas, com o stress. António: Mesmo assim, é bom, sendo artista, ter nascido na cidade. Estás mais exposto a coisas novas e há mais pessoas; acabas por ganhar uma maturidade diferente graças à abertura que a cidade Pensam que seja mais fácil crescer enquanto artistas numa pequena ou grande cidade?
Quadrante, 2023
9
Made with FlippingBook Digital Proposal Maker