Quadrante 15

A Arte da Existência Não Vivida

por Carlota Portugal Libreiro

mente do leitor. Este será, a toda e qualquer hora, interrompido por questões, raramente respondidas, que vão desde as que nos perseguem há séculos - “Porque é que criamos Arte?” -, às que marcam os nossos tempos - “Se a ação humana é predeterminada, então serão os nossos atos criativos mais nossos do que do computador, que as pessoas alegam pertencer ao programador e não ao computador?” Por sentir que se trata de uma área de mais difícil reprodução que a musical, confiro, sem dúvida, maior interesse às áreas visuais. Aqui, o autor traça como ponto de partida o nascimento do programa AARON; escrito pelo artista e cientista informático Harold Cohen na tentativa de descobrir quais os requisitos mínimos necessários para criar uma imagem. O objetivo único deste programa era o de reproduzir as ações humanas, nomeadamente a compreensão e recriação de imagens com estilos artísticos, como um pintor humano faria na tela. Para tal eram utilizadas diferentes máquinas, a fim de materializar as imagens que, posteriormente, seriam coloridas à mão por Cohen. Como este software não era de código aberto, o seu desenvolvimento terminou com a morte de Cohen em 2016, mas é inevitável questionar quem era o verdadeiro artista neste cenário. Por um lado, AARON não estava capacitado para aprender estilos novos além daqueles que lhe foram atribuídos por Cohen. Por outro, este

Haverá processo mais humano que o processo criativo? E quanto à Arte, quem detém o poder para a criar senão nós? A estas perguntas aditam se tantas outras, na procura de desconstruir um futuro que, na verdade, já se instalou. Em Código para a Criatividade, Marcus du Sautoy discorre sobre o que está por trás do ato criativo e por que razão lhe chamam a “última fronteira” da Inteligência Artificial. Para tal, o autor debruça-se sobre as conquistas auferidas pela inteligência artificial (IA) no mundo das artes visuais e musicais desde a segunda metade do século XX - com o nascimento da IA - até aos dias de hoje; tendo, ao longo deste período, a IA alterado drasticamente aquilo que há uns anos conhecíamos como processos criativos. Antes de 1949, os computadores podiam ser informados sobre o que fazer, mas não possuíam a capacidade para se lembrarem daquilo que já tinham feito. Hoje, vemos a IA não só como colaboradora dos criadores humanos, mas também como entidade criativa por si só. Nesse sentido, este livro é uma espécie de manual de iniciação para todos aqueles que querem saber de que forma é que a IA se faz “ouvir” e “ver” no mundo artístico. É uma obra destinada a leitores de todas as áreas e idades, pois além de possuir uma narrativa concisa e descomplicada, trata o futuro da forma de expressão que nos distingue do resto dos animais: a Arte. Marcus du Sautoy foge à doutrinação, seguindo um caminho de semeação de dúvidas na

Quadrante, 2023

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