Quadrante 15

não se revelem bons artistas”. Não devemos, no entanto, esquecer que a Arte é, “em última instância, uma expressão do livre arbítrio humano”. Por conseguinte, “até os computadores terem a sua própria versão deste, a Arte criada por um computador será sempre associada a um desejo humano de criar.” É possível que a nossa tão pouco modesta aversão à arte criada com recurso a Inteligência Artificial nasça da coletiva aflição de nos tornarmos banais. Sem a arte, o que nos diferencia dos outros animais? Ou melhor, o que nos diferencia das máquinas, desprovidas de consciência e inteligência emocional? Ansiamos por fazer da nossa existência um acervo de significados na esperança de ter a dor como catalisadora de um produto que acrescentará valor ao mundo, na forma mais humana de expressão. Não estamos prontos para assumir a nossa insignificância, fazendo brotar ao seu lado, por museus e galerias, a arte da existência não vivida. Não obstante, se pusermos um quadro numa parede ou colocarmos uma melodia a tocar e as pessoas se sentirem sensibilizadas ou comovidas, como podemos dizer que não se trata de Arte?

último dependia das composições feitas pelo seu programa, para fazer nascer as obras. Na verdade, Cohen descrevia a sua ligação com AARON como “semelhante à relação entre os pintores dos Renascimento e os seus assistentes”. Significará isto que os programadores são os novos artistas? E se outra pessoa carregar no botão “criar”, quem merece este título? No decorrer do livro, não é expresso em que lado da muralha se posiciona o autor, uma vez que a narrativa tem como sustento factos reais e não opiniões pessoais. O AARON foi o ponto de partida através do qual se colmatou falhas e iniciaram progressos para a criação de artistas cada vez mais autónomos. É com base nesses exemplos que o autor faz pender o seu discurso, visando definir não só quais os requisitos da criatividade, como também as premissas para definir algo como Arte. “O que é que confere valor às coisas?” - Poderá a objetividade de uma fórmula responder a esta pergunta, que nos atormenta desde de que há memória? O autor levanta a hipótese de, num futuro não muito distante, existir um algoritmo de aprendizagem automática capaz de “analisar os valores biométricos provindos do interior do nosso corpo, e calcular o impacto emocional que uma determinada música ou obra de arte tem em nós”. Com recurso a este processo, facilmente descobrimos que interruptores biométricos temos de ligar para produzir um “êxito global”. Teremos então aberto a caixa de pandora para a produção de arte excecional? Ainda que sem uma resposta exata, Marcus Du Sautoy apresenta duas possíveis visões. Ora, “se a beleza for totalmente subjetiva, e se o cliente tem sempre razão, então os algoritmos biométricos podem produzir a melhor Arte de todos os tempos”. Em alternativa, “se a Arte disser respeito a algo mais profundo do que as emoções humanas, devendo expressar uma qualquer verdade para lá das nossas vibrações bioquímicas, os algoritmos biométricos talvez

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Quadrante, 2023

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