Quadrante 15

Questões de Modernidade na Actual Pintura Portuguesa

por Levi Vermelho

também. Cada artista não fez mais do que tentar um vagoaperfeiçoamento, apurar uma técnica eleita ao grau de preferida, tratar a ideia central das suas preocupações ou somente um mote acidental ou preparatório. Pretendeu-se só, ao que parece, mostrar o que hoje se faz no domínio das artes plásticas e não, preparar com cuidados próprios de ante-estreia um original para ofertar liberalmente a um público ansioso. De forma que o público ficou na mesma. Apesar do ciclo de conferências, apesar de toda a boa vontade dos conferencistas, dos expositores e dos organizadores. Se o público estava já informado, esperava muito legitimamente que aquilo de que se informou evoluísse, se transformasse,caminhasse,progredisse.Seopúblico era de Domingo normalmente, ou de tardes de chuva por oportunidade, a exposição que os desvelos e carinhos dos impulsionadores pretenderam dotar de aspectos difusores, informadores, digamos propagandísticos, dissolveu-se na obscura noção de arte moderna, associada à conhecida mentalidade do homem que não gosta porque não percebe, é uma fraude, são todos ladrões, por aí fora, etc., até onde todos nós sabemos. Deste «statu quo» ninguém arredou pé e tanto foi assim que às conferências realizadas «in loco» seguidas de debate para esclarecer assistiram só aquelas pessoas que as perceberam, as aplaudiram, as criticaram, não manifestando o mínimo desejo de iniciação nem de aprofundamento. Donde se conclui que o problema não se pode resolver por si, mas depende de muitas mais coisas que, todas juntas, condicionam o próprio valor, significado, validade em suma, da arte que se faz.

Recuperamos um pertinente texto da 2ª edição da Quadrante, de 1959, onde se pensa sobre pintura.

Longínquos já os rumores duma Exposição Gulbenkian com ambiente de choque, conferências derecusados e problemas de sobrevivência, não adormeceram porém os artistas plásticos portugueses sobre os parcos, difíceis e incompreendidos louros conquistados, para isso tendo bastado convencerem-se de que não é de todo inútil continuar o esforço. Assim, ainda recentemente, viram abertas as portas da Sociedade Nacional de Belas Artes para aí realizarem a primeira exposição mais ou menos oficial de arte moderna. Mas, embora uma só, a exposição reflecte dois aspectos que convém assinalar. Primeiro o espaço, depois o tempo. Primeiro, a tradição quase hierática do salão, habituado às periódicas exposições de calendário inspiradas na renovação trimestral da face da natureza e gozando habitualmente de um acto solene de inauguração, a que não são alheias ainda as fitas de seda e as tesouras de prata. Depois, os longos anos de antiguidade que pesam sobre a designação primeiro salão de arte moderna» com todo o sabor da novidade acabada de inventar, com todo o perfume de tintas recentes, todo o entusiasmo da ideia nova que é necessário impor, à custa de penosas derrotas nas hostes renitentes do antigo. E lá vieram todos (ou quase todos) os que nos habituaram já em exposições anteriores, individuais ou de pequeno grupo, a formular uma demonstração quase matemática pela qual se prova que em Portugal se faz pintura moderna e escultura

Quadrante, 2023

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