Quadrante 15
Entrevista ao Padre João Sarmento, SJ
por Salvador R Cavaco
O homem vive em relação. Há um carácter comunitário na vocação humana. A pessoa tem uma exigência da sua natureza: a necessidade de vida social, de contactar com o outro. Nessa relação, a pessoa responde à sua vocação. Dessa relação, forma-se uma expressão: a cultura. A Cultura é a expressão comunitária formada, cujo movimento é orgânico e encontra-se desenhado nos traços da história. Essa expressão marca com o seu cunho os conhecimentos e os valores da vida em comunidade. A estrutura social deveria servir a estrutura humana, e a Cultura deveria servir o homem; enquanto meio para que a pessoa se realize; enquanto meio para que o homem responda à sua vocação. A ausência de uma unidade comunitária é a ausência de uma unidade nas relações humanas, é a ausência de comunidade. O panorama cultural da nossa civilização no último meio século transformou-se bastante. Hipóteses desencontradas, trabalhos sem sentido e construções artificiais esvaziadas de qualquer essência. Se houve tempos que fora una, agora é dissoluta e repartida. Se a expressão comunitária formada, i.e. a cultura, é dissoluta, também a comunidade o é, e se a comunidade o é, também o homem o é. Vivemos tempos de confusão. Algures no verão do ano de 2022, dirigi-me a uma casa de Cultura, a Brotéria, na Rua de São Pedro de Alcântara. Sentei-me à mesa com o Padre João Sarmento, sacerdote jesuíta, escultor, e coordenador da Galeria da Brotéria. Esta é a transcrição de uma conversa acerca destas e outras cousas.
Quadrante, 2023
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