Quadrante 14

é previsível que o artista ambicione uma lingua - gemuniversal, dentro da sua expressão subjetiva, também é pressuposto que o diálogo só é possí - vel sobre os assuntos que conhecemos e o artista é obrigado a coordenar a sua autenticidade com a acessibilidade da obra. O ideal é que o artista não procure reações excitadas, que discipline o even - tual prazer pela popularidade ou pelo reconhe- cimento barato que daí advier – essas obras têm prazo de validade, mais ou menos coincidente com a passagem das estações da moda. O ideal é que conte a verdade, que não é tarefa fácil nem objetiva. Deve sujeitar-se a um martírio de es- crutínio tal que consiga dizer exatamente aquilo que conhece em nós que não somos capazes de reconhecer. O ideal é que seja responsável, cida - dão, consciente, ativo e participativo. O ideal é que tenha presente que mais vale conseguir en - trada permanente no imaginário de 10 do que ter um impacto caduco em 100. O ideal é que o artista saiba o valor que tem, mesmo quando a estrutura

não lho reconhece, e que saiba que contar a verda - de descoberta é passar o testemunho e, com isso, prestar umgrande serviço político à comunidade. Espero ter fugido à mencionada superfi - cialidade, mas temo que a pólvora não tenha sido descoberta neste texto. A mensagem de fundo é a responsabilidade social (individual, também) de conhecer e dar a conhecer a verdade, no sentido que aqui lhe foi dado – a mensagem necessária que a consciência não quer enterrar. Enquanto portadores de uma experiência própria da reali - dade, que temde servir o diálogo e a construção de algo melhor e maior, vale ter presente o valor da própria voz na correção das injustiças. (Deixo, por fim, uma sincera recomendação dos dois documentários mencionados neste texto: Meeting the man: James Baldwin in Paris , 1970; I Am Not Your Negro , 2016)

MadalenaMota – Estudante de Direito (FDUL)

31

Quadrante,2021

Made with FlippingBook Digital Publishing Software