Quadrante 14
Vive-se um período de déficit do domí -
a Poesia, e as Artes Menores o decorativismo. Nesse sentido, sempre houve aquilo que se con - sidera a criação que eleva e a criação que satis - faz. Porém, o Modernismo esbateu a distinção entre Maior e Menor, alienando os valores que permitiam a hierarquia de qualidade e qualida - des de cada uma destas faces da mesma moeda. Todavia, é importante sublinhar que hoje, com o mundo virtual, nasceram novas plataformas, globalizadas e horizontais – todos podemos partilhar e somos vistos com a mesma impor- tância visual no feed customizado de cada uti- lizador (podes-me seguir a mim, e seguir um outro Artista com mais renome, mas surgimos lado a lado, algo que antes seria impensável) – já para não falar de fotografias de pratos de comida e afins… em certa medida, o acesso des - consagra a Arte. Mas essa ideia da Democratização e da Horizontalidade da Internet não ilusória? Posso seguir um Artista Emergente e um Ar- tista Mediático, mas não me vão surgir neces- sariamente lado a lado. É a ideia da agulha no palheiro, só que no ciberespaço há essa proporcionalidade a ter em conta: há mais palha, mas também há mais agulhas. Parece-me que a Arte “comqualidade” e a Arte “sem qualidade” são proporcionais ao longo do tempo, agora há a variável quantita - tiva a considerar. Não me parece que nos deva - mos focar tanto na parte negativa, mas pensar que um aumento quantitativo não reduz obri - gatoriamente a qualidade, apenas a dispersa. Também temos que atender à questão de como se reconstrói do passado, é importante. Toda a Arte poderá ser uma reformulação da História. Basta pensar no Renascimento em que a indivi - dualização do Artista ganha importância, recor - rendo a coisas de um milénio e meio atrás (aos Gregos e Romanos). Reformular a Arte não é por isso pejorativo, conquanto hoje em dia, neste
nio linguístico?
Há por vezes palavras em que há difi - culdade da descrição, tanto literal como abs - tratamente – de forma denotativa e conotativa – chega a um ponto em que as pessoas reco - nhecem, mas não conhecem palavras. É curioso como a mente nos atalha, como preenche esses vazios. Algumas culturas aborígenes têmumdi- cionário de cores muito reduzido, por exemplo apenas têm palavras especificas para vermelho, branco e preto – as outras cores são associadas a elementos cujo detenhamessamesma cor: céu poderá significar azul. A importância do domí - nio linguístico é pertinente. Há uma ideia de que para se aumentar esse domínio é necessário ex - pandir a bagagemdo vocabulário (palavrasmais caras, mais especificas, mais técnicas). Todavia, neste momento, tenho vindo a trabalhar a im- portância da pontuação ortográfica - vírgulas, pontos finais, tudo o que é pausa, tudo o que é silêncio. São esses silêncios que locucionam a língua, esses silêncios são a ordem no caos que é a linguagem. Na tua obra do “Stopped Motion Be- tween Two Coordenates” há uma sugestão para se estar parado entre duas realidades, duas coordenadas ou dois momentos. Consi - deras que se vive um período de criação nega- tiva ou positivo? Penso esta questão no plano histórico, na concepção que tenho da História. Acredito que a História funciona como uma ficção, é possível montar a História (e a História de Arte) segundo diversos pensamentos – conceções formalistas, conceções sociológicas, etc. – mas aquela que me parece certa é que, durante todos os tem - pos - desde que existe História - sempre houve a dicotomia entre Artes Maiores e Artes Meno- res. Muitas vezes, as Artes Maiores integravam
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Quadrante,2021
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